terça-feira, 13 de janeiro de 2009

northern star

Ela saiu correndo desesperada para qualquer direção. Disseram-lhe que estariam no fim do caminho esperando por ela, e que não importava o caminho que tomasse, ela chegaria a eles ao mesmo jeito. Quem disse? Os anjinhos, ora essa, os anjinhos que salvarão a minha vida, eles me disseram. Resolveu então seguir o caminho dos seus impulsos, o aleatório instintivo que temos quando fugimos de alguma ameaça mas não sabemos exatamente para onde ir. Ela acreditava nos pequenos seres que existiriam lá longe e então corria, corria, corria, ora, eles existem! Ora essa, por que não existiriam? Se eu penso neles e eles possuem formas e falam comigo e executam ações, por que não existem? Se algo existe na imaginação é porque existe na vida real; você não pode imaginar algo que não existe. E então corria, e se a vida tivesse uma trilha sonora talvez estivesse tocando uma sinfonia bonita e trágica com vários instrumentos, dos quais não tinha conhecido a respeito dos nomes, mas sabia que também existiam, pois emitiam sons maravilhosos, e uma batida a cada passo, pa, pa, pa, pa, pa, e uma melodia percorrendo as batidas, enlançando-as, amarrando-as e desamarrando-as em luz e silêncio e violência, e então ela corria mais, e não chorava porque chorar era pra quem está triste; ora, vamos economizar as lágrimas do mundo! Eu sei que sou feliz! Todos me disseram o contrário mas eu sei que sou, eu sei que encontrarei os anjos e lá serei feliz, lá serei um pequeno anjinho, lá serei uma reluzente estrela, apontando para o norte, sempre para o norte... Me disseram que o norte significa direção correta e algo de positivo embutido no significado, talvez seja, talvez não, mas eu serei uma estrela do norte imponente e doce e suave e eterna e constante no céu escuro, ainda que não exista constância no meio do nada; e ela pensava, serei feliz, serei feliz, serei feliz, não importa o tanto que tenha que correr para...

Morreu correndo. E não houve mais estrela do norte desde então.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

lumière

Era daqueles que possuiam a força da luz; a beleza da claridade psicológica, a influência positiva sobre os mínimos detalhes do ambiente. Era daqueles que sorriam enquanto falavam, tornando a comunicação tão macia, tão gostosa, tão humilde. Aquele sorriso sincero, íntegro, inexplicavelmente desenvolto pela ação do tempo.

Ah, o tempo. O maldito e maldoso tempo, menino mal-criado, inventado por Deus para trazer um pouco de sofrimento, um 'cadinho de saudade, para que não sejamos sempre tão vazios e fúteis. Para que possamos reconhecer a dor e assim derrotá-la apropriadamente. O maldito tempo, criança chorona e incontrolável, insatisfeita, insaciável, insolúvel.

Ele teria dito enquanto sorria, teria dito milhares de coisas porque as palavras eram assim naturais, desprovidas de esforço; ele teria sorrido e dito, com o olhar sábio de quem não necessita de vaidade para provar-se absoluto: "ah, o tempo? O tempo demarca o espaço e o espaço demarca a ação. A ação demarca o espírito e o espírito demarca o cérebro. Já o cérebro, por sua vez, não demarca; ele remarca, e então desmarca."

Ele teria dito, sim.

Mas o que eu teria dito?